Trump está ignorando os mercados por sua própria conta e risco. Basta perguntar à ex-primeira-ministra britânica Liz Truss

POLÍTICA

Lucas Pimentel

3/20/20253 min read

Trump insiste em tarifas como solução mágica para a economia dos EUA, mas riscos são altos

Donald Trump defende que as tarifas sobre importações são uma solução mágica para a economia dos Estados Unidos. Ele acredita que elas podem impulsionar a manufatura doméstica, arrecadar fundos para eliminar o déficit orçamentário, reduzir impostos de renda e extrair concessões de outros países em questões comerciais. No entanto, empresários e economistas alertam que, na prática, essas tarifas aumentam os custos para produtores americanos que dependem de insumos importados e para os consumidores, além de provocar retaliações de outros países, reduzindo a demanda por produtos americanos no exterior.

Trump admitiu que seu plano tarifário pode causar “um pequeno distúrbio” e não descartou a possibilidade de uma recessão. Recentemente, o Goldman Sachs elevou a probabilidade de uma recessão nos EUA nos próximos 12 meses de 15% para 20%, enquanto economistas do JPMorgan aumentaram essa estimativa de 30% para 40%, citando políticas governamentais “menos amigáveis aos negócios” como parte do problema.

Impacto nos Mercados e na Economia

Os investidores também estão mais pessimistas. Desde o pico histórico de 19 de fevereiro, o índice S&P 500 caiu 8,2%, e o Nasdaq Composite, focado em tecnologia, despencou 12% desde seu recorde em dezembro. A incerteza em torno da política comercial caótica de Trump é um dos principais fatores por trás dessa desaceleração.

Empresas como Target e Kohl’s já alertaram que a falta de clareza sobre as tarifas está levando os consumidores a reduzir gastos. A Delta Air Lines chegou a cortar sua previsão de lucros devido à queda na confiança de consumidores e empresas, causada pelo aumento da incerteza macroeconômica.

“A incerteza é um desânimo para a comunidade empresarial e, por consequência, para os investidores”, disse Kevin Gordon, estrategista de investimentos da Schwab. “Estamos ouvindo diretamente das empresas que elas não conseguem fazer planos de gastos.”

A Postura de Trump

Até agora, Trump parece indiferente à reação do mercado. “Os mercados vão subir e vão cair, mas temos que reconstruir nosso país”, disse ele a repórteres na semana passada. O secretário do Tesouro, Scott Bessent, também minimizou as quedas, afirmando que correções são “saudáveis” e “normais”.

No entanto, Paul Donovan, economista-chefe da UBS Global Wealth Management, observa que essa postura é diferente da que Trump adotou em seu primeiro mandato, quando demonstrava maior preocupação com as reações do mercado. Essa mudança de atitude tem deixado os investidores ainda mais inquietos.

O Paralelo com Liz Truss

Trump tem um “gêmeo” em Liz Truss, a ex-primeira-ministra britânica que, em 2022, tentou implementar um plano econômico audacioso: cortes de impostos financiados por mais dívida, sem redução de gastos. O anúncio causou pânico nos mercados, levando a uma crise nos títulos do governo britânico e à queda de Truss após apenas 49 dias no cargo.

Assim como Truss, Trump pode ser forçado a recuar em suas políticas tarifárias. Ele já fez isso em alguns casos, como ao adiar ou reduzir tarifas mais severas sobre importações da China, Canadá e México. Além disso, ele reinstituiu temporariamente a regra que permite a entrada de pacotes de até US$ 800 sem tarifas.

Donovan explica que, quando os custos das tarifas são visíveis para os eleitores, Trump recua rapidamente. Por exemplo, uma tarifa de 25% sobre o alumínio pode aumentar o preço de uma cerveja em apenas 1,5 centavos, um impacto mínimo para o consumidor final.

Os Mercados como Juízes Finais

Ignorar a reação do mercado às políticas econômicas é uma aposta arriscada, especialmente porque essa reação tem um impacto direto na economia como um todo. Jack Ablin, sócio-fundador da Cresset Capital, acredita que o mercado de ações será o “árbitro final” das políticas de Trump, já que influencia o gasto do consumidor, um dos pilares da economia.

Se os americanos se sentirem menos ricos devido à queda no valor de suas carteiras de investimentos e contas de aposentadoria, eles reduzirão gastos em itens não essenciais, como viagens e refeições em restaurantes. Esse efeito dominó negativo pode pressionar Trump a mudar de rumo.

Ross Mayfield, da Baird, concorda, observando que Trump tem ferramentas para acalmar os investidores, como focar em cortes de impostos e desregulamentação. No entanto, ele ressalta que a tolerância de Trump ao “sofrimento” do mercado não é infinita.

“Acredito que o mercado é o árbitro final dessas coisas”, disse Mayfield.

A lição de Liz Truss é clara: ignorar os mercados pode levar a consequências catastróficas. Trump deveria prestar atenção antes que seja tarde demais.